Parto - Sundari

Sundari - Natural com bolsa intacta

Durante o mês de maio senti várias contrações, sendo comum ter uma contração a cada meia hora, num período de uma hora e meia. E esse processo foi novo para mim, apesar dessa ter sido minha terceira gestação! Essas contrações são como preliminares, uma preparação natural do corpo. Algumas mulheres tem e outras não, porém as minhas eram doloridas, o que gerou um incômodo no fim da gestação, pois acordava até na madrugada, sentindo as contrações. Apesar dessa “novidade”, tudo estava bem comigo e minha nenem.

De acordo com o meu ultra-som, eu completaria 40 semanas no dia 25 de maio, mas de acordo com a data da minha menstruação completaria 40 semanas no dia 04 de junho.

Apesar de confiar mais na minha data do que na do exame, a medida em que o tempo ia passando eu ficava mais e mais nervosa. E as contrações doloridas eram minha maior preocupação, então comecei a ficar em alerta desde a última semana do mês de maio.

Todos os dias fazia caminhadas. 
Na última semana de maio comecei a fazer caminhadas mais longas, para estimular as contrações.

No dia 03 de junho eu já estava num estresse fora do normal, sentia medo, angústia, ansiedade e mais um monte de sentimentos e pensamentos que iam se misturando e me sentia muito confusa. Meu instinto dizia que estava tudo bem, que ainda não havia chegado o momento, mas a mente não me deixava em paz, já que de acordo com o ultra-som eu estava com 42 semanas.

Cheguei a chorar compulsivamente! Depois da catarse, respirei fundo e pensei no que eu queria para mim e minha família: um processo forçado ou natural?

Tinha a certeza que ao chegar no hospital com o exame apontando a provável data do nascimento da minha filha, eles iriam forçar. Isso era algo que estava fora de cogitação, a não ser que fosse extremamente necessário.

Fui ao meu local de oração, acendi uma vela, um incenso e desabafei com minha Deusa Mãe. Precisava de força, de me sentir segura. E foi assim que consegui me acalmar.

No dia 05 de junho fomos eu, meu marido e meus dois filhos, para o mercado central de belo horizonte, idéia sugerida pelo meu filho mais velho, Dhayaram, para que eu pudesse caminhar e me distrair, já que a ansiedade era grande.

Fomos para lá ao meio-dia e ficamos até as 16 horas! Depois fomos comer pastel (desejos de mulher grávida *rsrs) e decidi ir ao Sofia Fieldman. Nesse momento as contrações vinham a cada 15 minutos! Chegando lá estava com 7 cm de dilatação, mas as contrações estavam fracas. A enfermeira Cintia, quem fez o acolhimento, foi um amor de pessoa e disse que devido à minha tranquilidade iria me mandar para a Casa de Parto. Mau sabia ela que era essa a minha intenção. Estava muito feliz, pois pensava que em breve veria minha pequena!

Pedi ao meu marido que ligasse para as doulas que iriam acompanhar o parto.
Vanessa e Helena chegaram rápido. Eu já havia tomado banho e estava no quarto com banheira! (o único da casa de parto)
Os meus filhos estavam agitados. Dhayaram não queria sair de perto de mim, pois queria ver sua irmã nascendo.

Fiz agachamentos, caminhadas com o acompanhamento, hora da Vanessa, hora da Helena, enquanto que o Raja ficava cuidando dos meninos dentro do quarto.
Eram raras as contrações.
Quando viam, elas faziam uma massagem relaxante. A Helena sugeriu o agachamento, que fiz algumas vezes.

O tempo foi passando, os meninos dormiram e a madrugada chegou. Com ela veio também o cansaço. Eu já não queria mais caminhar para lá e para cá, no corredor da casa de parto.

Quando me sentava no banco e me inclinava para frente, começava a sentir a contração, que passava logo. Ficamos conversando e a companhia das doulas foi agradável, porque assim eu me distraía. 

Lembrava do parto do Suraj e de como eram fortes as contrações. Eu gritava com Raja para fazer massagem no momento em que vinham, devido à sua intensidade!
E o que eu mais queria, naquele momento era sentir dor!
Estava muito cansada, mas não conseguia descansar.

Helena sugeriu que eu fosse dormir um pouco e aceitei a sugestão.
Tirei só mesmo um cochilo e acho que meia hora depois despertei. Quando saí do quarto vi a Vanessa e a Helena sentadas no banco e voltamos a conversar. A tecnica em enfermagem que estava de plantão estava lá também. Aproveitei para perguntar a ela o que aconteceria caso as contrações não viessem, se eles iriam usar ocitocina. Ela disse que mesmo estando na casa de parto, devido à demora do meu trabalho de parto, poderia acontecer isso, já que eu estava com 10 cm de dilatação.

Aquilo me deixou em alerta e veio a insegurança e o medo.

Comecei a me sentir culpada por não ter contração (sei que não tem nada haver, que eu não tinha culpa alguma, mas naquele momento esse pensamento martelava em minha cabeça).

No parto do Suraj deixei que a bolsa fosse rompida, pois já estava com a dilatação completa. De acordo com o Edvan, enfermeiro que assistiu ao parto do Suraj, eu ficaria ali, sentindo dor desnecessariamente, até que a bolsa rompesse naturalmente.
Conversando com a Vanessa descobri algo novo: é possível um parto com a bolsa intacta, mas que isso era algo raro e que até acredita-se que as crianças que nascem dessa forma são protegidas. Chegamos à conclusão de que hoje em dia não se espera para ver se a criança vai nascer com a bolsa intacta: eles (os médicos) não esperam.

Assisti um parto desse no youtube e fiquei encantada. Talvez se tivesse esperado, Suraj teria nascido dessa forma. Então, como não foi possível antes, queria que dessa vez fosse mais natural ainda, nada de romper a bolsa, nem quando chegar à dilatação completa.
Tudo isso estava no meu plano de parto, mas...

O fato de não ter contrações (nada mesmo) aliado ao pavor de ter que me submeter ao soro e, se não resolvesse, a uma cesárea, me deixou angustiada.
Sentada ao lado da Vanessa eu disse que estava pensando em aceitar a sugestão da Joana, enfermeira de plantão, de romper a bolsa, para estimular as contrações.
No mesmo instante Vanessa me perguntou se era isso mesmo o que eu queria.
Aquilo me fez lembrar do que eu queria.

Joana fez o monitoramento dos batimentos cardíacos do bebê e tudo estava bem.

O sol estava nascendo e passamos a noite em claro: eu, as doulas e meu marido.

Eu precisava descansar, dormir na minha cama, estar num lugar em que me sentia mais segura e sem me sentir pressionada, com receio de que a qualquer momento alguém viesse até mim e dissesse que eu teria que me submeter a algum processo que não estava nos meus planos.
Toda essa pressão não estavam me fazendo bem.
Conversando com meu marido decidimos, juntos, que iriamos para casa, mesmo sabendo do risco iminente, já que ela poderia nascer a qualquer momento.

Pensei: na “pior” das hipóteses, ela nasce em casa.

O meu receio era o de o hospital não me liberar, já que no parto do meu primeiro filho o médico não autorizou minha saída do hospital, quando eu estava com 6cm de dilatação.
Para minha surpresa, Joana disse que eu poderia ir para casa, mas que não me daria alta, como se eu nem tivesse saído de lá. Só pediu para que esperasse a Cibili, enfermeira que iria dar plantão no domingo.

Sibylle quis ver como estava a bolsa, averiguar se havia presença de mecômio.
Para minha despreocupação, os batimentos cardíacos da nenem estavam ótimos e o líquido aminiótico estava “clarinho”. 

Foi possível ver porque a bolsa já estava baixa demais.

Tivemos uma conversa de 15 minutos apenas, o suficiente para saber que existem pessoas que acreditam na força da ntureza, da vida!
Ela me disse que seus partos haviam sido em casa e que eu, com a tranquilidade na qual estava, se acontecesse seria muito tranquilo.
Foi o suficiente para me sentir mais segura e saber que aquela era a decisão mais certa a ser tomada, naquele momento.

Não queria decepcionar ninguém, por isso conversei com a Vanessa e a Helena, e elas foram muito acolhedoras, apoiando minha decisão, o que foi de extrema importancia.

A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi dormir.
Umas três horas seguidas.
Tomei café da manhã e fui dormir mais.
Passei o domingo dormindo...
Não sentia contrações!
Por volta das 18:00hrs fui até meu altar, fiz minhas oferendas e chorei muito!
Por mais que eu confiasse, a mente voltava a me atormentar e eu precisava ser forte e apenas confiar.
Meu altar, com minhas Deusas grávidas, era um ponto no qual eu me apoiava e foi meu porto seguro emocional.

Fomos todos para o Templo Hare Krisna.
Tendo dois meninos “espertinhos”, subi e desci as escadas diversas vezes e, por mais que meu marido se oferecesse para cuidar dos meninos, eu fiz questão pois me distraía.

Dancei um pouco, depois comemos prashada e conversei com as pessoas sobre tudo, exceto gravidez e parto (rs), o que me deixou bem relaxada.

Voltamos cedo para casa, por volta das 21:00hrs, por causa do frio.
Deitei com o relógio do lado.
Acordei às 2:25hrs com uma contração.
Acordei meu marido e continuei deitada.
Veio outra, às 2:35hrs. Levantei e fui ao banheiro.
2:40hrs, mais uma contração e eu comecei a rir!!!
Já fui trocando a roupa e meu marido foi para o carro.
Já não olhava no relógio, as contrações eram seguidas!

Eu cantava e gritava bem alto, dentro do carro, a cada contração e depois começava a rir, não conseguia parar com essa tempestade emocional.
Estava realmente muito feliz.
Ao chegar na casa de parto, às 3:00hrs, me agachava a cada contração e percebi um pouco de sangue.

Quando a contração parava eu dava uma “corridinha”, para chegar logo no quarto.
Joana já me esperava e foi enchendo a banheira.

Me agachei no chão frio do quarto e ela me disse para subir na cama.
Eu disse que ficaria ali, no chão, até que a banheira estivesse pronta.

Ela perguntou: _Vai querer que sua filha nasça aí, no chão?
Claro que não! pensei comigo mesmo, mas só levantaria para ir para a banheira.

Eu fiquei calada e continuei ali.

Assim que a contração parou, levantei sozinha e “pulei” na banheira, que ainda estava enchendo.

Deitei de lado na banheira, essa era a posição mais confortável naquele momento.
O trabalho de parto agora era pra valer. Podia literalmente tocar na bolsa!

Então ela descia e eu só pensava em não fazer força, para que tudo fosse o mais suave possível.

Joana trouxe o som, com uma música bem suave... a luz também era, num tom azulado, tranquilizador.
Isso durou 25 minutos e a Joana comentou que esse era um momento expulsivo lento, ela parecia nem acreditar no que estava presenciando.

De repente saiu a cabeça e eu vi minha filha dormindo, através da bolsa!

Abriu os olhos e fechou novamente, super tranquila!

Ela foi saindo bem devagar, com a bolsa intacta!

Ela fez um movimento de impulso com as pernas, quando saiu completamente, rompendo a bolsa. Depois, ainda dentro d’água, voltou a dormir.

Ela ficou dentro da banheira por 8 minutos, acordando e dormindo...

Quando saiu da água, permaneceu em meus braços e ficamos ali, papai, mamãe e filhinha, sem que ela chorasse, expelindo o líquido naturalmente, sem nenhuma intervenção.
Foi quando me dei conta de que a banheira estava vermelha de sangue e comecei a me sentir muito mau, fraca...

Eu não me lembro, mas a última coisa que disse à câmera foi:
_Estou sentindo muito dor.

De relance, vi meu marido, de roupa, dentro da banheira, cortando o cordão umbilical depressa e retirando a Sundari dos meus braços.
Depois apaguei.
Me lembro de pedir sal, sentia minha pressão abaixando e apaguei novamente.
Acordei com o soro no braço e meu marido dizendo que nossa filha estava com fome.
Ele a colocou do meu lado e apaguei denovo.

Não me lembro da primeira mamada.

Acordei às 6:00hrs com meu marido, dizendo que iria para casa por causa dos nossos outros dois filhos. Eu concordei e dormi um pouco, com nossa filha do lado, já estando mais consciente.

Acordei às 9:00hrs, ainda me sentindo fraca, e percebi que minha filha estava enrolada somente num pano e com muito frio, eu também estava. Tentei chamar a enfermeira, que só apareceu meia hora depois. Pedi para que colocasse roupa em minha filha.

Comi missô puro, o que me deu mais ânimo. O enfermeiro de plantão insistiu para que eu me levantasse e tomasse banho. No meio do caminho, estando amparada pela enfermeira, caí no chão, desmaiando novamente.

O motivo do sangramento não foi dito e, pela postura de todos, eles não sabiam o que havia acontecido.

Na parte da tarde chegaram meus filhos e marido!
Já me sentia melhor, andando sem apoio.
Sundari foi muito bem recebida pelos irmãos.

Enquanto fiquei no quarto, com meus filhotes, meu marido foi convidado a dar uma palestra no hospital, sobre o parto natural, já que eu não aceitei nenhum tipo de interferência, nem mesmo aquelas que o pessoal da casa de parto acredita fazer parte do “parto natural e humanizado”, coisas como romper a bolsa ou estimular o parto.

Para minha alegria, fui liberada no mesmo dia, às 18:30hrs, voltando para casa com minha família!

Sundari teve apgar 9/10.